Tradução no aprendizado de uma segunda língua

É dito que para aprender um segundo idioma é preciso evitar o uso da língua mãe no aprendizado e fazer uma espécie de imersão com o segundo idioma. É muito possível aprender somente dessa forma, mas o resultado pode demorar a aparecer. A utilização correta da tradução para a aquisição de uma segunda língua com certeza acelera o aprendizado da mesma.

Mas você deve estar se perguntando: “O que seria uma utilização correta de tradução?”

Primeiramente, e isto já até é um senso comum, é que não devemos nunca traduzir textos ao pé da letra, palavra por palavra, sejam estes falados ou escritos. O problema, é que acaba sendo uma tendência natural de todo estudante de línguas no início do seu aprendizado. Ele não sabe o que significa determinada palavra, procura no dicionário, e aí por vezes o texto fica sem sentido. O que precisamos compreender é que uma língua é formada de itens lexicais, que são palavras simples ou grupos de palavras no léxico de uma língua, que nada mais é do que o conjunto completo de itens lexicais de uma língua. Alguns exemplos são: “farol vermelho“, “tomar conta de“, “em todo caso“, etc. Podemos chamar estes itens lexicais de chunks. Para saber mais sobre os chunks, acesse:

O que são chunks e como eles aceleram o aprendizado do inglês

Então, para acelerar o processo de aprendizado de uma segunda língua, a solução é aprender a traduzir item lexical por item lexical, e aqui é que está o segredo. O termo ideal então para esse tipo de tradução seria encontrar a equivalência das línguas. É inevitável fazermos sempre uma relação com a nossa primeira língua. Mesmo as pessoas que aprenderam inglês, e hoje são fluentes, sempre que encontram alguma expressão, ou palavra que não conhecem em inglês, lembram primeiro a expressão ou palavra em português, e tentam achar uma equivalência em inglês, muitas vezes criando um inglês “aportuguesado” por não conhecer a equivalência exata. Por exemplo, imagine que você queira dizer a frase abaixo em Inglês:

“Eu normalmente como pão com manteiga no café da manhã.”

Como seria a tradução em inglês mais provável?

Se formos pelo lado errado, e pensarmos palavra por palavra encontramos:

comer = eat

com = with

no = in the / on the / at the

Formando assim uma frase que não estaria muito correta ou que não é comum de se ouvir em inglês:

I usually eat bread with butter on the breakfast. 

Usando a equivalência, e não a tradução palavra por palavra, devemos pensar em conjuntos de palavras e seus equivalentes. Ou seja, quando dizemos algo em português, o que podemos dizer em inglês (e vice-versa) que transmite a mesma mensagem, sem se preocupar com as palavras isoladamente. Neste caso:

bread and butter = pão com manteiga

to have bread and butter = comer pão com manteiga

for breakfast = no café da manhã

Então teríamos uma frase, utilizando a equivalência, assim:

I usually have bread and butter for breakfast. Eu normalmente como pão com manteiga no café da manhã.

Michael Lewis, autor do livro “Implementing the Lexical Approach”, escreveu:

It is worth a brief digression to see quite why translation has had such a bad name for the last 30 years. Two powerful forces have worked against it. Much of the innovation during that period in both materials and methods has come from Britain and the United States. Native speaker teachers and materials perceived as linguistically reliable have had high status, and have been supported by powerful financial interests. The publishers prefer global to country-specific textbooks; native speaker teachers often work in polyglot private schools with multi-lingual classes where translation would be impractical or impossible even if it were desirable. These powerful factors mean translation had to be condemned – but for commercial rather than pedagogical reasons. It is a surprise that so many non-native teachers have been persuaded so easily to undervalue their own abilities, and discard a classroom technique of great potential value.

Acompanhe em português o que ele disse:

“Vale a pena uma breve digressão para entender o porquê a tradução tem tido uma má reputação nos últimos 30 anos. Duas forças poderosas trabalharam contra isso. Boa parte da inovação naquele período, tanto em material quanto em método veio do Reino Unido e dos Estados Unidos. Professores falantes nativos e materiais tidos como linguisticamente confiáveis tinham status e tinham apoio financeiros. As editoras preferem livros globais a específicos para um país; os professores nativos frequentemente trabalham em escolas privadas poliglotas com alunos que falam diversos idiomas onde a tradução pode ser impossível mesmo que desejada. Esses fatores poderosos condenaram a tradução, por razões comerciais, não por razões pedagógicas. É uma surpresa que tantos professores não nativos têm sido facilmente persuadidos a subestimar as próprias habilidades descartando uma técnica de sala de aula de grande potencial.” Tradução livre.

Michael Lewis só não mencionou também que os materiais todos em inglês e métodos que condenam qualquer forma de tradução possibilitam as duas “powerful forces” a exportarem professores nativos para qualquer lugar do mundo, sem a necessidade de saberem ou aprenderem a língua desses locais.

Concluindo, o aluno deve com certeza ficar o máximo do tempo exposto à língua a ser adquirida, mas deve também aprender a encontrar esses itens lexicais nessa língua e sua equivalência em português.

Interesting, right?

Ah, e para incrementar seus estudos e principalmente para utilizar a equivalência em português a seu favor, a dica é aprender a utilizar o Lexical Notebook. Para isso, basta acessar:

O que é e como usar um lexical notebook

See you next time!

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Milena Vitória
Milena Vitória
1 ano atrás

que interessante!

Priscila Rabanéa
Editor
1 ano atrás

Não é mesmo, Milena?

Vitor
Vitor
1 ano atrás

Interessante, pois sempre me falam que o ideal é não traduzir. Após ler este artigo vejo que não é bem assim!

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